Estudos


Descobrindo e cobrindo a cabeça


Um estudo de I Coríntios 11:1-16
Em todas as reuniões de todas as igrejas locais os irmãos devem estar com suas cabeças descobertas, e as irmãs com suas cabeças cobertas. Este é o ensino simples e claro apresentado nas Escrituras — um ensino, é verdade, muito questionado hoje em dia. Deus diz: “O homem, pois, não deve cobrir a cabeça … a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio” (I Co 11:7, 10). Mesmo reconhecendo que há coisas profundas neste trecho (I Co 11:1-16), é muito claro que o ensino básico da passagem é este. Como diz o dr. Gourlay: “Podemos parafrasear as instruções assim: é a vontade de Deus que, nas reuniões do Seu povo, os homens tenham a cabeça descoberta e as mulheres tenham uma cobertura sobre suas cabeças, e que os homens tenham cabelo curto e as mulheres cabelo comprido”.
O mandamento central e básico desta passagem é claro e simples. Na Sua sabedoria, porém, Deus não apenas estabelece a ordem; Ele explica as razões. O trecho que serve de base para este estudo apresenta cinco razões para a ordem que Deus deu, as quais quero considerar resumidamente com o leitor. Também é necessário tentar responder a cinco objeções que são apresentadas, até com certa frequência, quando este assunto é apresentado.
Antes disto, porém, algumas coisas precisam ser definidas, para que possamos saber aonde queremos chegar:
i) Não obedecemos a Deus nesta questão por causa das cinco razões apresentadas, mas simplesmente porque Ele mandou! É bom procurar saber, obviamente, o porquê da Sua ordem, mas mesmo que não houvesse nenhuma explicação dada e nenhuma razão apresentada, teríamos a mesma responsabilidade de obedecer. Veja Lc 6:46-49; Jo 14:15; 15:14.
ii) O ensino de I Co 11:1-16 é para irmãos e irmãs. Tão importante quanto as irmãs cobrirem suas cabeças é os irmãos descobrirem as suas. Tão errado quanto uma irmã descobrir sua cabeça é um irmão cobrir a sua. A responsabilidade das irmãs normalmente é mais enfatizada (talvez porque custa menos para um homem descobrir sua cabeça do que para uma mulher cobrir a sua), mas ambos (homem e mulher) têm a mesma responsabilidade nesta questão.
iii) O ensino em questão é para homens e mulheres salvos, batizados e no contexto da sua igreja local. Dizer que o véu deve ser usado sempre que uma mulher ora, mesmo em particular, seria limitar a liberdade de comunhão com o Pai que deveria ser constante na vida do cristão. Temos um novo e vivo caminho aberto que nos conduz até ao trono da graça, um caminho do qual podemos nos aproveitar a qualquer hora, em qualquer lugar, e nenhum ritual ou formalismo deve limitar nosso acesso a Deus em oração individual — quando a igreja se reúne, porém, é necessário haver ordem. O ensino deste capítulo foi dado a uma igreja local (veja I Co 1:1-2), e deve ser obedecido sempre que a igreja está reunida. No contexto familiar ou particular, porém, não se aplica.
iv) Deus nada fala sobre a forma da cobertura. Dependendo da região, usa-se véu (ou mantilha), lenço na cabeça, chapéu, etc. A forma da cobertura é irrelevante; o importante é que, no caso das irmãs, a cabeça esteja coberta. Bom senso, obviamente, é necessário, para evitarmos os dois extremos: por um lado, forçando uma padronização humana (todos os véus feitos dum mesmo tecido, numa mesma cor, etc.); por outro lado, tentando ver até onde conseguimos ir sem desobedecer o que está escrito (usando véus minúsculos, ou que são imperceptíveis por serem da mesma cor do cabelo, etc.). Temos que insistir no que a Bíblia diz, porém sem ir além do que está escrito.
Tendo definido estes pontos iniciais, passemos então ao estudo do trecho em questão, começando com o aspecto positivo do ensino.

a. O ensino positivo

O trecho que estamos considerando (I Co 11:1-16) é o único trecho no Novo Testamento que fala sobre o véu, um fato que leva alguns a dar pouca importância ao assunto. Apesar de ser mencionado apenas aqui, porém, a questão da cobertura não é tratada de forma superficial ou duvidosa. Deus apresenta pelo menos cinco razões pelas quais as irmãs, no contexto da igreja, devem usar uma cobertura, e os irmãos devem ter a cabeça descoberta.

a.1. “Cabeça” (vs. 3-6)

Primeiro, Deus afirma um princípio; depois Ele o aplica. O princípio importante aqui é o de soberania, de liderança (“cabeça”). Deus está mostrando que homem e mulher, na igreja, não ocupam a mesma posição. São iguais no que se refere à sua posição em Cristo (os vs. 11-12, além de Gl 3:28, mostram isto claramente), mas não nas suas funções na igreja local (e nem na família, apesar de este não ser o assunto do trecho em questão). Na igreja local, diz o Senhor, o homem é cabeça da mulher.
Esta posição de submissão que a mulher ocupa é unicamente consequência da hierarquia que Deus estabelece na Sua criação, e não tem relação com a capacidade, o valor ou a utilidade do homem ou da mulher. Pois o texto afirma, na mesma frase, que “Deus é cabeça de Cristo”. Deus e Cristo são iguais em poder, em majestade, em glória, em divindade; os dois são Um. Nos propósitos divinos, porém, era necessário que Cristo se submetesse à liderança do Pai, o que Ele voluntariamente fez. Isto não é apenas algo decorrente da encarnação do Filho de Deus, mas faz parte dos relacionamentos eternos deste Deus Triúno.
O texto está enfatizando que a mulher deve imitar o exemplo do Senhor Jesus Cristo; assim como Ele submete-Se voluntariamente ao Pai, ela deve submeter-se voluntariamente ao homem na igreja local. Assim como o Filho não se torna inferior ao Pai por obedecê-Lo, assim as irmãs não tornam-se inferiores aos irmãos, nem merecem menos respeito, por obedecê-los. É importante que todo irmão entenda que é cabeça da mulher porque Deus quer, não porque os homens são melhores ou superiores. É igualmente importante que toda irmã entenda que deve ser submissa aos irmãos na igreja porque Deus quer, não porque as mulheres são inferiores.
Tendo afirmado o princípio no v. 3, Deus nos fornece sua aplicação nos vs. 4-6. O princípio é claro: Cristo é cabeça do homem, e o homem é cabeça da mulher. Mas qual a relação deste princípio com a prática de cobrir ou descobrir a cabeça? O texto explica a figura que Deus estabeleceu.
Quando um homem cobre sua cabeça nas reuniões da igreja, diz o v. 4, ele desonra a sua cabeça (que é Cristo). Por quê? Porque ao cobrir sua cabeça física ele está (figurativamente, é claro) cobrindo e escondendo sua cabeça espiritual (que é Cristo). Ele está, em figura, dizendo que Cristo não tem autoridade ali, que Sua posição como Cabeça não está sendo reconhecida. Por outro lado, o ato físico de descobrir a cabeça (tirando um chapéu, por exemplo) não tem nenhum poder místico, mas é uma maneira de dizer, em figura, que o verdadeiro cabeça do homem, Cristo, não está encoberto ou escondido naquela reunião.
O mesmo ocorre em relação às irmãs, como mostram os vs. 5 e 6. Se suas cabeças estiverem descobertas nas reuniões da igreja, o símbolo que transmitem é que suas cabeças espirituais também estão descobertas, dizendo assim que o homem (que é o cabeça da mulher) está ocupando a posição de autoridade (posição de “cabeça”) naquela reunião. Ao cobrir sua cabeça, porém, estão dizendo, em figura, que sua cabeça espiritual (que é o homem) está encoberto e escondido.
Unindo os dois símbolos (a cabeça descoberta dos irmãos e a cabeça coberta das irmãs), veja que mensagem preciosa é transmitida. A igreja local está reunida — mas quem está em autoridade? Quem é o Cabeça naquela reunião? A cabeça coberta das irmãs indica que o homem, cabeça espiritual da mulher, não está governando ali; e a cabeça descoberta dos irmãos indica que Cristo, Cabeça espiritual do homem, é quem está governando. Percebam, irmãos, a importância do símbolo! Se um irmão cobrir sua cabeça durante a reunião, ou se uma irmã descobrir a sua, a autoridade e liderança de Cristo estarão sendo, em figura, desprezados!
Uma ressalva, porém, antes de passarmos adiante: a obediência externa ao símbolo não garante que há obediência no coração (mas isto em nada tira a importância do símbolo). Voltaremos a esta questão ao considerar a questão da glória.

a.2. Glória (vs. 7-9)

A segunda razão apresentada é igualmente importante. O princípio estabelecido é que o homem (varão) é a glória de Deus, e a mulher é a glória do homem (v. 7). Assim como o Senhor Jesus fez quando ensinou-nos que o divórcio é pecado (Mt 19:4-6), o Espírito Santo nos leva de volta à Criação do mundo para ilustrar Seu ensino. Deus, na Criação, criou o homem (varão) à Sua imagem e semelhança, como a coroa da Criação (Sl 8:5-8). A mulher, porém, dizem os vs 8-9, foi criada do homem (Gn 2:21-22) e por causa do homem (Gn 2:18). Isto é, Deus criou a mulher por causa do homem, mas criou o homem para Ele.
Novamente, devido aos extremos ensinados por alguns, é necessário enfatizar que isto não implica em desigualdade de valor perante Deus (os vs. 11-12 deixam isto bem claro). A desigualdade aqui é de função, não de valor.
Tendo estabelecido o princípio, precisamos aprender a aplicação também. O homem não pode cobrir sua cabeça nas reuniões porque ele é a glória de Deus. Sua cabeça descoberta diz, em figura, que Deus está sendo glorificado, pois a glória de Deus (o homem) não está escondida naquela reunião. Da mesma forma a irmã deve cobrir sua cabeça porque ela é a glória do homem. Sua cabeça coberta diz, em figura, que o homem não é glorificado naquela reunião, pois a glória do homem (a mulher) está escondida.
A mensagem que uma igreja transmite, portanto, quando obedece o ensino deste trecho, é dupla. Quando os irmãos descobrem suas cabeças e as irmãs cobrem as suas, a igreja está dizendo: “Nesta igreja, o Cabeça é Cristo; submetemo-nos à autoridade dEle. Além disto, buscamos somente a glória do nosso Deus. Obedecê-Lo é nosso prazer, glorificá-Lo é nosso alvo!”
Diante da importância solene desta figura que Deus estabeleceu, como deveríamos ter cuidado nesta questão. Um varão salvo jamais deve cobrir sua cabeça numa reunião duma igreja; uma mulher salva jamais deve descobrir sua cabeça numa reunião duma igreja (nem mesmo por alguns segundos, para arrumar seu cabelo).
Cabe aqui, obviamente, a mesma ressalva mencionada anteriormente: a obediência externa ao símbolo não garante que há obediência no coração, mas isto em nada tira a importância do símbolo. O ato de uma irmã cobrir sua cabeça ou de um irmão descobrir a sua não deve ser nossa única preocupação; também é necessário, no coração, concordar com aquilo que o símbolo apresenta. Infelizmente é possível obedecer ao símbolo mas não aceitar a soberania de Cristo e nem buscar a glória de Deus (é hipocrisia triste, mas é possível). Esta triste possibilidade, porém, não quer dizer que podemos tratar esta questão como algo opcional ou pessoal. É responsabilidade da igreja, através de seus anciãos, exortar seus membros neste sentido, mostrando-lhes que a irmã que não cobre a cabeça nas reuniões está desobedecendo a Deus, e o irmão que cobre sua cabeça igualmente desobedece. É necessário insistir que haja a obediência externa, porém insistir também que ela venha acompanhada da submissão e devoção internas.

a.3. Por causa dos anjos (v. 10)

Além deste dois argumentos profundos e solenes, o Espírito Santo apresenta mais três argumentos (bem práticos), o primeiro dos quais aparece numa frase interessante: “Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos”. O que quer dizer isto?
O “sinal de poderio” (ou “sinal de autoridade”, ARA) é claramente o véu que a mulher deve ter na cabeça, um sinal que indica sua submissão à autoridade delegada por Deus, o homem. Qual é, porém, o interesse dos anjos nesta questão? Convém lembrar de três fatos:
i) Os anjos também se cobrem na presença de Deus (pelo menos os serafins — veja Is 6:2).
ii) Os anjos que hoje estão com Deus são aqueles que não seguiram Satanás na sua revolta, mas que submeteram-se à soberania de Deus.
iii) Além disto, eles já presenciaram a insubmissão de Eva no Jardim do Éden (na qual Adão a seguiu).
Diante disto, sugiro que os anjos entendem e apreciam este “sinal de poderio”, vendo que as irmãs voluntariamente se submetem à hierarquia estabelecida por Deus e demonstram isto pelo uso do véu. Eles, que já viram insubordinação no Céu e na Terra, mas que submetem-se voluntariamente a Deus, aprendem que mesmo no meio da insubmissão que reina no mundo há pessoas que têm o mesmo desejo que eles têm de honrar seu Criador. Eles vêem, na Terra, uma atitude que é característica do Céu!

a.4. Por causa da natureza (v. 13-15)

O segundo dos três argumentos práticos é baseado na natureza. Se a própria natureza ensina que há uma distinção entre os sexos, é mais um motivo para mantermos esta distinção na igreja. Mas o que quer dizer “natureza” neste contexto? Veja a seguinte citação, extensa porém clara:
“Por natureza alguns entendem a lei da natureza, como se houvesse algum mal intrínseco nisto, o que obviamente não é verdade; pois se fosse, os nazireus não poderiam usar cabelo comprido (como faziam) … Outros entendem por natureza a lei das nações, mas isto também não é verdadeiro, pois em muitas nações os homens usam seu cabelo bem comprido. Outros entendem que é um senso comum, a capacidade de percepção da razão natural que, desde a Queda, permanece no homem; mas tal percepção seria igual em todos os homens, e sabemos que nem todos consideram isto vergonhoso. Outros, portanto, por natureza entendem um costume comum … mas não pode ser, pois não há, e nunca houve, tal costume universal a ponto de nenhum homem usar cabelo comprido. Outros por natureza entendem a inclinação natural; mas isto também não pode ser, pois alguns homens têm uma inclinação e propensão natural para usar seu cabelo excessivamente longo. Outros por natureza entendem a diferença entre os sexos, como a palavra é usada em Rm 1:26; isto é, a diferença entre os sexos nos ensina assim, e este parece ser o sentido mais provável do texto”.
É possível confirmar a exatidão da conclusão de Poole ao analisar a definição da palavra grega traduzida “natureza”. O léxico de Thayer dá as seguintes definições: “1. natureza (1.1 a natureza das coisas, a força, leis e ordem da natureza; 1.2. contrastado com o que é monstruoso, anormal, perverso; 1.3. contrastado com o que foi produzido pela arte humana; 2. nascimento, origem física; 3. uma forma de sentir e agir que, pelo costume, tornou-se natural; 4. a soma das propriedades e poderes inatos pelos quais uma pessoa difere das demais, peculiaridades naturais, características naturais.”
Seguindo o raciocínio de Poole, e por eliminação, percebemos que a única definição da palavra que encaixa no contexto deste capítulo é a última. Há uma diferença natural entre homem e mulher decorrente da Criação, uma característica inata, uma diferença estabelecida por Deus. E assim como Deus deu à mulher um véu natural, o que não acontece com o homem, assim também na igreja a mulher deve proceder de forma diferente do homem, cobrindo sua cabeça, pois não é decente que a mulher ore a Deus descoberta (v. 13).

a.5. Devido ao costume das igrejas (v. 16)

Para finalizar, um argumento simples e convincente: se alguém, depois de toda a argumentação dos versículos anteriores, ainda quisesse ser contencioso, Paulo afirma que as igrejas de Deus, e os apóstolos, não tinham o costume de contender com a Palavra de Deus. O costume nas igrejas na era apostólica era que as irmãs cobriam suas cabeças e os irmãos descobriam as suas, um costume ensinado pelos apóstolos e que devemos imitar ainda hoje.
Nunca foi o propósito de Deus que houvesse tantas diferenças entre Suas igrejas. Esta primeira epístola aos Coríntios confirma isto, pois fala de um mesmo “ensino em cada igreja” (4:17), mesmas ordens quanto ao casamento “em todas as igrejas” (7:17), um mesmo costume “nas igrejas de Deus” (11:16), a mesma apreciação de Deus “em todas as igrejas dos santos” (14:33), um mesmo ensino quanto à coleta dado nas igrejas da Galácia e em Corinto (16:1). Há um padrão claramente apresentado no Novo Testamento, e é nossa responsabilidade descobri-lo e segui-lo. O ensino quanto ao véu faz parte deste padrão.

a.6. Resumindo

Antes de olhar para algumas objeções que são apresentadas ao ensino acima, convém resumir o que já vimos. Usando cinco argumentos diferentes (dois profundos, figurativos de verdades espirituais, e três mais simples e práticos) aprendemos que o uso do véu é parte integrante do padrão de igreja revelado no Novo Testamento. Quando uma igreja local está reunida você, irmã, deve cobrir sua cabeça porque o homem é seu cabeça, porque você é a glória do homem, por causa dos anjos, porque até no seu cabelo comprido você difere dos varões, e porque isto (cobrir a cabeça) faz parte do modelo de igreja estabelecido por Deus. E você, irmão, não pode cobrir sua cabeça porque Cristo é seu cabeça, porque você é a glória de Deus, por causa dos anjos, por causa da diferença natural entre homem e mulher, e porque isto faz parte do modelo de igreja estabelecido por Deus.

b. Os argumentos contrários

Existem muitos argumentos contrários ao que temos apresentado. É necessário, portanto, tomar o tempo para analisar estes argumentos (pelo menos os mais usados) à luz da Palavra de Deus.

b.1. O argumento humano

Muitos afirmam que I Co 11:1-16 (e outros trechos que ofendem a ideologia moderna) são as palavras de um judeu machista e preconceituoso. Insistem que, devido à formação judaica de Paulo, ele desprezava as mulheres, e isto se manifestava no seu ensino.
Há dois problemas com este argumento. Primeiro, o restante do Novo Testamento contradiz este suposto preconceito de Paulo. Em Rm 16, por exemplo, ele recomenda e elogia diversas irmãs. Em Fp 4:2-3 ele lembra do serviço importante de Evódia e Síntique. Escrevendo a Timóteo, Paulo destaca que a mãe e a avó deste foram usadas por Deus na salvação do jovem Timóteo (II Tm 1:5; 3:14-15). Lendo todo o Novo Testamento com uma mente aberta, não podemos descrever Paulo como um machista preconceituoso.
Independentemente disto, porém, a questão principal é que I Co 11, e todo o restante da Bíblia, é a Palavra “inspirada por Deus” (II Tm 3:16), e que nenhuma parte dela “foi produzida pela vontade de homem algum [nem de Paulo, nem de João, nem de homem algum], mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (II Pe 1:21). Atribuir algum ensino das cartas de Paulo (qualquer um) à sabedoria do próprio Paulo é negar a doutrina da inspiração da Bíblia.
Não foi Paulo quem inventou o ensino sobre o véu; foi algo ensinado pelo Espírito Santo. Quem desobedece este assunto desobedece a Deus, não a Paulo.

b.2. O argumento cultural

Outro argumento usado com frequência é aquele que diz que este ensino era somente para o povo de Corinto daqueles dias; era algo temporário e cultural, e não se aplica nos dias e na cultura em que vivemos.
O problema com este argumento, porém, é que em I Co 11:1-16 não há uma única menção de aspectos culturais. A doutrina da cobertura não é baseada em argumentos culturais, mas sim em dois princípios espirituais importantíssimos (a questão da Cabeça e a questão da glória), na observação por parte dos anjos, na diferença natural entre homem e mulher, e no padrão de conduta observado pelas igrejas. Os dois princípios espirituais mencionados continuam tão válidos hoje quanto na Corinto do século I; não temos a menor indicação que os anjos mudaram seus hábitos desde aqueles dias; a diferença natural é baseada na Criação, não em Corinto; e as igrejas de Deus não têm nenhuma autorização para mudar nenhum detalhe do padrão apresentado no NT.
Ou seja: o argumento cultural não é válido; o ensino quanto à cobertura na cabeça, porém, é válido e atual, mesmo neste século XXI.

b.3. O argumento textual

Alguns apelam para as aparentes contradições entre o texto de I Co 11:1-16 e I Co 14:34-35 como uma justificativa para descartar o ensino sobre o véu. Isto porque I Co 11 parece concordar com um ministério público e audível para as mulheres (v. 5), enquanto que I Co 14 claramente proíbe tal ministério.
Se cremos na inspiração da Bíblia, porém, sabemos que ela não pode conter contradições (senão não seria a Palavra de um Deus onisciente). Sempre que nos deparamos com uma aparente contradição entre dois trechos da Palavra de Deus, só temos duas opções:
i) Acreditar que realmente encontramos uma contradição, e consequentemente rejeitarmos a Bíblia como um todo;
ii) Entendermos que a falha está conosco, e não com a Bíblia, e que se olharmos mais atentamente para as Escrituras acharemos a explicação para aquilo que parecia ser contraditório.
Neste caso que estamos considerando, basta olhar a epístola como um todo para descobrirmos que as aparentes contradições desaparecem. Nesta epístola Paulo trata, inspirado pelo Espírito Santo, de dois problemas distintos (porém relacionados): o fato de algumas mulheres na igreja em Corinto não cobrirem suas cabeças nas reuniões, e o fato de algumas delas participarem audivelmente destas reuniões. O cap. 11 apresenta a correção para o primeiro problema, mostrando que é indecente a mulher estar na reunião com a cabeça descoberta. O cap. 14 trata do segundo problema, afirmando que é indecente que as mulheres falem na igreja.
Como diz D. Gilliland: “Tomar o cap. 11 como palavra final e depois procurar interpretar o cap. 14 à luz do cap. 11 certamente inverte a sequência normal. É muito mais lógico seguir a sequência natural da carta, e aceitar o cap. 14 como a palavra final no assunto nesta epístola, permitindo que o cap. 14 governe o nosso entendimento do cap. 11, e não vice-versa”.

b.4. O argumento natural

Outra fonte de dúvida (ou controvérsia) são as palavras do v. 15: “… porque o cabelo lhe foi dado em lugar de véu”. A conclusão de alguns é que se o cabelo foi dado em lugar de véu, então as irmãs não precisam de um véu artificial, pois já têm um véu natural.
Repare, porém, três coisas:
i) A palavra traduzida “véu” no v. 15 é bem diferente da usada no restante do capítulo. O capítulo usa várias vezes a palavra katakalupto, que significa “cobrir, usar um véu”, enquanto que o v. 15 usa a palavra peribolaion, que significa “um manto, algo jogado em torno de” (Léxico eletrônico de Thayer, baseado em Strong’s Concordance). O véu do v. 15, portanto, não é a cobertura dos vs. 5, 6, etc.
ii) Teremos um sério problema na lógica deste capítulo se concordarmos com o argumento natural. Se o véu é o cabelo da irmã, então como entender (por exemplo) o v. 6: “… se a mulher não se cobre com véu, tosquie-se também”? Se o véu é o cabelo, então para não cobrir-se com véu a mulher teria que tosquiar-se, rapar sua cabeça; mas então, porque dizer “tosquie-se também”? É como se Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, dissesse: “…se a mulher se tosquia, tosquie-se também”, o que seria uma bobagem incoerente.
iii) Este argumento natural trará, também, um problema para os irmãos. Se o véu é o cabelo, então as irmãs não precisam de nenhuma outra cobertura; mas os irmãos, que devem ter a cabeça descoberta nas reuniões, teriam então que rapar suas cabeças!
É absurdo sugerir que Paulo, com toda sua capacidade e inteligência, usaria um argumento ilógico destes. É blasfêmia crer que o Espírito Santo, Deus onisciente, poderia escrever desta forma. O argumento natural é impossível de ser aceito.

b.5. O argumento contraditório

Por fim, devo mencionar um argumento que é mais que absurdo, por ser tão contraditório. O texto que estamos considerando termina dizendo: “Mas, se alguém quer ser contencioso, nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus”. Alguns querem sugerir que Paulo está dizendo: “nós não temos tal costume de usar véu, nem as igrejas de Deus”.
Prezado leitor, basta uma rápida olhada no trecho todo para perceber o absurdo desta sugestão. Ou alguém sinceramente pensa que Paulo se esforçaria tanto para mostrar que as igrejas devem ter o costume do véu (gastando mais de uma dúzia de versículos para isto, usando cinco argumentos diferentes, dois dos quais baseados em princípios fundamentais), tudo isto para depois terminar de forma tão contraditória, admitindo que nem ele, o apóstolo, nem as igrejas daquela época, tinham tal costume? Ou algum filho de Deus ousaria sugerir que o Espírito Santo apresentaria um ensino de forma tão convincente para depois sugerir que tal ensino não precisa ser praticado?
Certamente não. A única forma coerente de entender este versículo é como foi sugerido no item a.5.

c. Conclusão

Depois de olhar para o ensino positivo deste trecho, e considerar resumidamente algumas objeções que costumam ser apresentadas, repito que não há nenhuma dúvida quanto à vontade de Deus sobre este assunto. Através de cinco argumentos diferentes o Espírito Santo ensina-nos que o uso do véu é parte integrante do padrão de igreja revelado no Novo Testamento.
Cada igreja local deve zelar para que seus membros sejam obedientes neste assunto, insistindo não só na observância externa do símbolo, mas também nas correspondentes verdades espirituais. Quando uma igreja local entende e obedece a Deus neste ponto, ela testemunha da sua submissão à autoridade de Cristo e do seu desejo de glorificar somente a Deus; ela instrui os anjos, respeita as diferenças naturais e anda dentro do modelo bíblico. Desobedecer simboliza insubmissão a Cristo como Cabeça e desejo de glorificar o homem; é um exemplo negativo para os anjos, mostra ignorância das diferenças naturais entre os sexos, e é um desvio do modelo de igreja local apresentado por Deus.
Irmãos, o assunto é solene e profundo! Que sejamos prontos a obedecer nesta questão tão importante.
W. J. Watterson

O véu

1. Há uma base teológica para o uso do véu?
Sim. O v. 3 apresenta essa base. Deus estabeleceu três níveis de relacionamentos, que são também três ordens, sendo eles:
a) Cristo o cabeça do homem,
b) O homem o cabeça da mulher,
c) Deus o cabeça de Cristo.
2. Essa ordem foi estabelecida segundo a inferioridade?
Não. Lembremo-nos que as Escrituras afirmam categoricamente que o Filho não é em nada inferior ao Pai (Jo 1:1, 18; 14:8; Cl 1:15; Hb 1:3). Outro detalhe importante é que a mulher tem, por natureza, mais habilidade do que o homem para falar e liderar. Todavia, Deus organizou esses três relacionamentos na igreja observando o princípio espiritual e não o talento natural.
Aprendemos pelo v. 3 que o homem está sujeito à autoridade de Cristo, que a mulher está sujeita à autoridade do homem, e Cristo está sob a autoridade de Deus para levar a cabo o Seu plano de redenção universal. Concluímos que a base para o uso do véu é o princípio de autoridade ou o princípio de governo demonstrado neste versículo.
3 . É verdade que o princípio de governo tem dois elementos?
Sim.
a) O elemento de liderançaCristo o cabeça, homem o cabeça e Deus o cabeça.
b) O elemento de submissão — o homem, a mulher e Cristo.
4. O que eu aprendo com o princípio de governo?
Aprendo que na igreja há responsabilidades específicas para quem lidera e para quem é liderado. Cada uma das partes que compõe esse princípio vai encontrar na Bíblia as suas respectivas responsabilidades. E, diga-se de passagem, é um privilégio ocupar qualquer lugar que Deus preparou; sendo em condição de liderança, ou mesmo de liderado.
O princípio de autoridade estabelece também ordem, disciplina e harmonia nos relacionamentos pessoais. Se faltar discernimento sobre as responsabilidades pessoais em uma igreja local, essa igreja estará fadada à anarquia. A ausência de governo (anarquia) cria condições para a multiplicação de opiniões, e cada pessoa passa a fazer o que lhe parece melhor (Jz 17:6, 9). Devemos lembrar que Deus não é de confusão, e sim de paz (I Co 14:33); e a paz é estabelecida pelo princípio de governo. Lembremo-nos também, que cada serviço na igreja deve ser feito com decência e ordem (I Co 14:40).
5. É impressão minha, ou Deus deseja que haja uma cabeça (autoridade) visível na sua igreja?
Sim. Nos relacionamentos pessoais de homem e mulher Deus deseja que haja uma autoridade visível. Como parte submissa nessa ordem que Deus estabeleceu na igreja, a mulher, ao usar uma cobertura na sua cabeça, está demonstrando visivelmente o seu lugar de sujeição à ordem que Deus firmou no meio do seu povo. O véu na cabeça é um sinal exterior da sua condição de submissão ao lugar que Deus lhe conferiu na nova criação. Assim sendo, resta ao homem o lugar de autoridade (cabeça) nos relacionamentos visíveis. Quando falamos de uma cabeça visível não nos referimos a um homem liderando na igreja, mas ao governo de Cristo na igreja por intermédio de uma liderança plural. A igreja que considera o uso do véu como ponto facultativo, deixando a decisão por conta do povo, já apresenta sinais de crise de autoridade.
6. O uso do véu está restrito aos coríntios?
Absolutamente não. O uso do véu está baseado, como temos visto, na ordem administrativa que Deus estabeleceu para todas as assembléias locais de todos os lugares, e em todas as épocas. O nosso Deus é de ordem e decência não somente para os coríntios, mas através dos séculos e das gerações. Faz parte do eterno plano de Deus que a sua multiforme sabedoria seja proclamada aos principados e potestades por todas as suas igrejas. Se o uso do véu estivesse associado com os hábitos de uma cultura, região, época ou costumes, poderíamos dizer, sim, que o seu uso estava restrito a algumas igrejas. No entanto, como esta doutrina está fundamentada em um princípio divino fundamental, logo a sua validade é universal. Portanto, a doutrina do véu deve ser estudada e praticada por todas as assembléias que reivindica para si o nome do Senhor Jesus Cristo, e que tenham efetivamente uma experiência pessoal com Ele. O Senhor da igreja em Corinto é também o Senhor de todas as igrejas; a ordem que Ele desejava ver em Corinto Ele espera ver hoje na igreja onde você reúne. O modelo que temos neste texto se estende a todas as igrejas locais (I Co 1:2; 11:16).
7. Que devo entender por “cabeça coberta” no v. 4?
Exatamente cabeça coberta. Sendo assim, usar uma cobertura que não caia pela cabeça não corresponde ao que lemos neste versículo. Usar um véu nas dimensões do boné de um rabino, por exemplo, não satisfaz a exigência da palavra de Deus.
8. Que cabeça é desonrada quando o homem se cobre na igreja? A sua cabeça física, ou sua cabeça espiritual (Cristo)?
A resposta a esta pergunta está no próprio versículo. A expressão própria já designa que a desonra está sobre a cabeça física do homem que se cobre, e não sobre Cristo, sua cabeça espiritual. É verdade que, quando o modelo de Cristo é violentado, Ele é desonrado; porém, o versículo está dizendo que o homem desonra a sua cabeça física. Se a desonra estivesse sobre a cabeça espiritual do homem, então teríamos de admitir a necessidade de véu na ordem que Deus estabeleceu entre Cristo e o homem. Porém, como já vimos na resposta da pergunta número cinco, o uso do véu está restrito ao relacionamento do homem e da mulher na igreja; aos relacionamentos visíveis.
9. Como posso entender o termo “desonra” no v. 4? Em segundo lugar, porque o homem se desonra ao usar o véu?
Ninguém que violenta o princípio divino de autoridade fica sem conseqüências; quem violenta governo, violenta a si mesmo. Este é outro motivo para crermos que é a cabeça física do homem que fica desgraçada. Notemos que em II Pe 2:10 lemos de pessoas que tem dificuldades com hierarquia, isto é, menosprezam governo e difamam autoridades superiores. A palavra de Deus diz que por isso são atrevidas e arrogantes e são passivas de disciplina divina.
Em Jd. v. 6 lemos que os “anjos caídos não guardaram seu estado original [esfera de domínio], mas abandonaram o seu domicílio [lugar de ação]”. Esses seres angelicais desprezaram a condição original, e o lugar de ação que o governo divino estabeleceu para eles como criaturas. Como conseqüência estão guardados, em algemas eternas, para o juízo do grande dia. Portanto, aqueles que praticam terrorismo contra o principio de governo é que se fazem desgraçados. Semelhantemente, o irmão que se cobre está destruindo uma demonstração exterior de autoridade estabelecida por Deus; resultando, com isso, na falta de uma cabeça (autoridade) visível. Sendo assim, ele desgraça a si mesmo e não a Cristo; o seu cabeça espiritual. Devemos ter consciência de que o irmão, ou a liderança de uma igreja, que decidir menosprezar essa figura que expressa o governo de Deus na sua igreja, pode esperar uma colheita amarga.
Escrevendo aos romanos, o apóstolo do Senhor disse que não há autoridade (o princípio de autoridade) que não proceda de Deus; e as autoridades constituídas são representações do governo absoluto de Deus. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação do próprio Deus, e trará sobre si mesmo condenação (Rm 13:1-2).
Ao relatar a queda de Lúcifer, Ezequiel destaca o atentado que o anjo caído cometeu contra a santidade de Deus (Ez 28:11-19). Isaías, por sua vez, apresenta como motivo da precipitação de Lúcifer ao reino dos mortos, o atentado que ele cometeu contra a autoridade de Deus (Is 14:12-17).
As lideranças de igrejas que tem cometido atentado contra o véu (sinal de autoridade), dispensando o seu uso, por não conhecerem o assunto, ou por querer atender aos gostos dessa geração anarquista; deverão prestar contas a Deus por ter praticado um atentado contra o princípio de governo.
Respondendo à segunda parte da pergunta. O homem que se cobre desonra a sua própria cabeça porque está assumindo o lugar de sujeição da mulher na ordem administrativa que Deus estabeleceu na nova criação. Aqueles que conhecem os papéis sociais distintos que Deus estabeleceu para homens e mulheres na criação ficariam alarmados ao serem informados que certo marido passou a liderança do seu lar à sua esposa; e que ele mesmo se colocou na condição de mulher em sua casa. Para uma sociedade que está se pervertendo para o sistema matriarcal de governo a atitude desse marido hipotético é absolutamente normal. No entanto, para quem conhece a verdade de Deus a norma é que os homens liderem os seus lares. No tocante à igreja, o homem que se cobre nas reuniões não está guardando o seu lugar original (esfera de domínio); pelo contrário, está abandonando o seu domicílio (lugar de ação); e a sua decisão de cobrir-se no ajuntamento público do povo de Deus deve ser também uma atitude alarmante e estranha. Evidentemente, se ele é um convertido não será algemado com cadeias eternas e resguardado para o inferno; todavia poderá esperar, da parte de Deus, justa retribuição.
10. O v. 5 segue o mesmo princípio de interpretação do v. 4?
Certamente que sim. O lugar original que Deus estabeleceu para a mulher na igreja é o de sujeição. Portanto, a irmã que não usa o véu desonra a sua própria cabeça. Neste caso também, é a cabeça física da mulher que fica desonrada e não a sua cabeça espiritual. Deixemos que o próprio versículo nos responda: “porque é como se a tivesse rapada”. Estas palavras só podem se referir à cabeça física da mulher, e não à sua cabeça espiritual (o homem). Paulo não está dizendo que o homem está rapado; mas é como se a cabeça física da mulher estivesse rapada.
A disposição da mulher de não usar o véu é também profundamente vergonhosa (significado da palavra desonra), porque com a cabeça descoberta a mulher estraga a demonstração exterior da sua sujeição ao modelo de Deus. Essa atitude prega a independência da mulher em prejuízo da liderança masculina; isto é uma perversão da norma.
Não usar o véu é também vergonhoso porque é como se a mulher estivesse com a sua cabeça rapada com navalha. Uma mulher com a cabeça rapada está na contramão do curso natural da criação. Em se tratando da mulher, a natureza ensina que é glorioso para ela ter o cabelo comprido; um cabelo que distinga a mulher de um homem (v. 15).
Qualquer coisa que vai contra o curso da natureza é anomalia; portanto, é efetivamente uma desgraça para a irmã não trazer véu na cabeça. Não usar o véu é um atentado à ordem governamental que Deus firmou para todas as suas assembléias locais.
11. Paulo está querendo dizer que a mulher que traz véu na sua cabeça pode orar publicamente?
Se entendermos assim teremos dificuldades ao depararmo-nos com I Co 14:34-35, ou I Tm 2:11-12. No cap. 11 Paulo está resolvendo as questões relacionadas ao uso do véu. No cap. 14 ele tratará das questões relacionadas à parte audível das reuniões da igreja. Aqui Paulo está simplesmente se referindo ao que acontecia na igreja em Corinto sem a autorização da palavra de Deus. Após terem terminado a leitura do cap. 11 e do cap. 14 desta carta, os irmãos em Corinto já teriam aprendido que, nos ajuntamentos da igreja, as irmãs devem usar o véu e se manterem em silêncio por obediência ao governo de Deus. Além disso, seria uma flagrante contradição ver uma irmã usando o véu, símbolo de sujeição, e ao mesmo tempo participando ativamente no andamento do ajuntamento público.
12. A declaração do v. 6 tem relação com alguma atitude específica?
Sim. A declaração de Paulo aqui está dirigida à irmã cristã que está em indiferença persistente quanto à necessidade de usar o véu. Se a mulher quer parecer-se com um homem, então que se apresente fisicamente como um homem, ironiza Paulo. Notemos que no v. 5 ele diz que é como se ela estivesse com a cabeça rapada. Aqui no v. 6 ele recomenda à irmã que persiste no erro a tornar a desgraça completa, rapando, efetivamente, a sua cabeça. Contudo, se a irmã considerar indecente tosquiar-se com tesoura, ou rapar-se com navalha; ou se ela teme violentar o governo de Deus, que se arrependa da sua obstinação e use o véu. Não nos esqueçamos que os anjos se cobrem diante da grandeza de Deus (Is 6).
13. Posso encontrar outros argumentos nas Escrituras quanto ao uso do véu?
Sem dúvida. Paulo usa as Escrituras sagradas para ensinar que a doutrina do véu está sustentada por princípios que foram estabelecidos na criação.
No v. 7 o apóstolo diz que o homem não deve cobrir a cabeça porque ele é a imagem e glória de Deus. Ficou estabelecido na criação que o homem está destinado a representar a glória de Deus. Está claro que o desejo de Deus é que a Sua glória deve ser evidenciada nas reuniões da igreja. Para tanto é necessário que o homem não se cubra com um véu, e que assuma as suas responsabilidades na igreja. O comodismo, e a falta de compromisso são coberturas que o homem cristão deve evitar, para que a glória de Deus seja refletida através da sua apresentação visível e do seu serviço. Como a glória do homem não deve se manifestar nas reuniões, logo as irmãs (glória do homem) devem cobrir-se com um véu, e manter-se na sua condição de sujeição.
14. Os argumentos dos vs. 8 e 9 são também das Escrituras?
Sim! Paulo está se referindo a uma passagem do VT para fazer menção ao modo da criação: “E a costela que o Senhor Deus tomara do homem, transformou-a numa mulher” (Gn 2:22). A mulher foi formada do homem (v. 8). O puro fato da mulher ter sido formada do homem indica que ele é a sua cabeça.
Em seguida Paulo cita o propósito da criação dizendo: “o homem não foi criado por causa da mulher; e, sim, a mulher, por causa do homem”. Em Gn 2:18 encontramos o Senhor Deus dizendo: “Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea”. Portanto, a mulher foi formada para ser a ajudadora do homem; este é o propósito da criação.
15. Os argumentos tirados daquilo que foi determinado na criação têm peso?
Muito peso! Se o argumento para o uso do véu se baseia nos fatos da criação, logo, o seu argumento está fundamentado em um princípio fundamental, e tem validade permanente e universal; não está limitado a uma cultura específica e nem a uma época.
16. Alguém pode invalidar um princípio fundamental?
O que Deus estabeleceu na criação nenhuma cultura, época, seminário, denominação e nem mesmo uma igreja pode invalidar. Não podemos, por exemplo, fazer um homem gerar no seu ventre uma criança; ficou estabelecido na criação que essa missão pertence à mulher. Não podemos fazer com que os frutos controlem as estações, porque na criação foi estabelecido o contrário. Não podemos fazer o Sol controlar a noite e a Lua controlar o dia, porque Deus estabeleceu o grande astro para governar o dia e a Lua para governar a noite. Semelhantemente não podemos inverter os fatos da criação que Paulo citou nos vs. 8 e 9 como base para a doutrina do véu. É lamentável que as “convicções” que muitos têm sobre a doutrina do véu sejam, na verdade, opiniões de escolas teológicas, de seminaristas, de notas de rodapé de Bíblias explicadas, e de igrejas lideradas por “mestres” que não estudam a Bíblia. Se algum dia alguém (cultura, época, seminário, denominação, pastores, presbíteros, igreja e etc.) conseguir invalidar os fatos estabelecidos na criação; então conseguirá invalidar a doutrina do véu.
17. Diante dessas verdades o uso do véu se torna uma obrigação moral (v. 10)?
Sem dúvida! Quando Paulo disse que a mulher deve usar o véu, ele se referiu a uma dívida moral. A mulher cristã tem privilegiada obrigação de trazer um sinal de autoridade na sua cabeça nas congregações públicas do povo de Deus. Notemos que o véu é sinal de autoridade e não de sensualidade; embora já saibamos que onde o governo divino prevalece, não há lugar para a desordem e a indecência. Observemos que as irmãs em Corinto deveriam usar o véu, não por um costume cultural, não como um acessório da vaidade feminina, não porque era a opinião de Paulo, e não porque a igreja deveria resgatar fragmentos das tradições judaicas; mas por causa dos anjos.
Os anjos devem ver a ordem de Deus tanto na criação quanto na igreja; esses seres angelicais são expectadores dos caminhos de Deus e do drama da redenção. Paulo faz um comentário da condição dos apóstolos em I Co 4:9 dizendo que foram postos por espetáculo ao mundo, tanto a homens como a anjos. Os anjos foram também expectadores da submissão irrestrita do Filho ao governo do Pai; viram o mistério da piedade. O Filho se humilhou assumindo um corpo de carne e finalmente foi glorificado, sendo recebido na glória, contemplado por anjos (I Tm 3:15). Pela Igreja, o mistério de Cristo, formada por judeus e gentios, os anjos podem aprender sobre a multifacetada sabedoria de Deus (Ef 3:10). Finalmente, quando os anjos vêem as irmãs usando o véu, podem aprender sobre o governo de Deus no seio duma igreja local.
Os anjos já presenciaram duas rebeliões contra a autoridade de Deus; uma cometida por anjos e outra por homens. Consequentemente, viram duas quedas; quando alguns anjos caíram (Jd 6; Is 14:12-17), e quando a humanidade caiu em Adão (Gn 3:6-7).
Neste capítulo encontramos também dois símbolos que fazem menção à morte de Cristo; o pão e o cálice. Quando a igreja se reúne para o partir do pão, ela celebra um memorial da morte do seu Senhor. Nessa celebração os salvos em Cristo tem em suas mentes as lembranças da pessoa e da obra sacrificial do seu Salvador. Quando, porém, as irmãs usam o véu, é trazida à nossas mentes lembranças da autoridade de Deus na igreja. O véu é o símbolo que vai nos lembrar sempre do lugar específico que cada cristão tem na igreja, seja de liderança ou de liderado. Um sinal de autoridade para coibir o erro ou para estabelecer a justiça. Como o professor na sala de aula é a presença da autoridade que mantém a ordem; e como o posto policial faz o motorista reprimir suas manias ilegais; assim o véu é o sinal da autoridade de Deus no meio do seu povo.
18. Os vs. 11 e 12 falam de que?
Esses dois versículos falam da interdependência do homem e a mulher para a perpetuação da raça humana. Nos vs. 7 e 8 Paulo fala daquilo que Deus firmou na criação em relação ao homem e a mulher; aqui o assunto se refere ao processo de continuação da espécie humana. Neste caso específico, o homem e a mulher são interdependentes. Vine explica que “o homem é a causa inicial da existência da mulher, e ela é a causa instrumental da existência dele”. O homem é gerado no ventre da mulher, e vem à luz por meio dela; entretanto, o homem é parte integrante desse processo. Em uma base pessoal o homem e a mulher são iguais, embora para propósitos administrativos a mulher seja subordinada ao homem. Porém, a existência dos dois depende de Deus; e o seu governo é soberano sobre ambos.
19. Esses argumentos são suficientes?
Paulo esperava que fossem. A prova disso está na pergunta que ele faz no v. 13. Dentro das circunstâncias de governo que Deus estabeleceu no seio da igreja, o apóstolo pergunta se é apropriado à mulher cristã não usar o véu. Os argumentos apresentados aqui são suficientes para nos convencerem que os homens devem descobrir a cabeça nas reuniões da igreja, e as irmãs devem trazer uma cobertura na cabeça.
20. Se algum cristão pedisse mais algum argumento a Paulo, ele o teria?
Sim. A natureza provê outro exemplo, mostrando que Deus deu cabelo longo à mulher e cabelo curto ao homem a fim de estabelecer diferenças entre os dois. O cabelo longo para o homem fá-lo parecer efeminado. O fato de vermos tantos homens cabeludos atualmente não significa que o testemunho da natureza mudou; pelo contrário, estamos vendo, na verdade, pessoas insensíveis ao testemunho da própria natureza; uma geração disposta a se rebelar contra os princípios do bem. A geração pós-moderna está tão distante do conhecimento de Deus que está voltando aos moldes do paganismo primitivo.
A Bíblia ensina que, no plano natural, o cabelo comprido é pertinente à mulher, sendo também a sua glória. A natureza dotou a mulher com o cabelo comprido como cobertura permanente. Assim como na natureza o cabelo comprido demarca o lugar de sujeição da mulher; semelhantemente, a irmã deve providenciar um véu como cobertura temporária para a sua cabeça nas reuniões da igreja.
Notamos que o lugar da mulher na igreja está em harmonia com o seu lugar na criação (vs. 7-9) e na natureza (vs. 14-15).
21. Paulo está sugerindo no v. 15 que o cabelo da mulher substitui o uso do véu (artificial)?
Paulo seria ingênuo se, depois de apresentar argumentos tão convincentes para ensinar sobre o uso do véu, em seguida desmentisse as suas próprias palavras. Primeiramente, o cabelo não foi dado em lugar de véu, e sim, correspondente ao véu. O cabelo crescido da mulher no plano natural corresponde ao uso do véu no plano espiritual. Se o cabelo comprido representa a sua sujeição na ordem natural, o véu, por sua vez, representa a sujeição dela à ordem espiritual na igreja. O véu serve à mulher de véu secundário, que ela deve pôr sobre a sua cabeça como símbolo da mesma realidade representada pelo cabelo crescido. Se é honroso e natural o cabelo comprido para a mulher, então não deve constituir vergonha pra ela o cobrir a cabeça com um véu nas reuniões do povo de Deus.
22. E se alguém quiser brigar para não usar o véu?
Paulo disse que os apóstolos não tinham tal costume, e nem as igrejas de Deus (v. 16). As igrejas de Deus continuariam praticando essa doutrina, e não aceitariam a inovação dos irmãos em Corinto sobre essa questão. Vale lembrar que a cidade de Corinto ficava no país que é considerado o berço da filosofia. A razão humana é sem dúvida loucura para Deus, e sempre se coloca na contra mão da fé.
E. A. de Oliveira



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LEMBRE-SE DO SEU CRIADOR


Conhecendo algo da brevidade da vida, “Como então viveremos?”. O escritor de Eclesiastes responde a esta pergunta para nós na forma de uma ordem: “

“Lembre-se do seu Criador nos dias da sua juventude...” (Eclesiastes 12: 1).
. . A palavra “lembrar” vem do hebreu “zakar” que significa chamar ou trazer à memória. Esta ordem de lembrar-se de Deus é mais que uma lembrança casual que há um Deus. Ela significa mais do que simplesmente curvar a sua cabeça cada vez que você passa pela igreja. Não é uma ordem cumprida simplesmente indo à igreja cada vez que as portas se abrem. É uma ordem radical e transformadora de vida para conhecermos e entendermos o Deus das Escrituras, reconhecermos a sua soberania em todas as coisas, buscarmos a sua glória em todas as coisas, e esforçarmo-nos para obedecer Ele em todas as coisas.. . A grande importância desta ordem fica clara quando você se lembra que vocês são constantemente bombardeados com distrações temporais projetadas para fazê-lo esquecer do valor de Deus e dos prazeres da Sua vontade. A menos que você proponha o seu coração a lembrar-se de Deus e usar cada meio a sua disposição para permanecer fiel àquele propósito, você cairá em vaidade e a sua vida será desperdiçada! Considere cuidadosamente o que escrevi. Não estou pedindo que você simplesmente concorde comigo. Estou suplicando para que você PROPONHA em seu coração fixar os seus olhos em Deus como se a sua vida dependesse disso (porque depende) e a ativamente, agressivamente, até violentamente (Mateus 11.12) procurar e usar cada meio ao seu alcance para impedir ser distraído e cair na vaidade desta geração perversa!. . É importante observar que o pregador de Eclesiastes não só nos ordena a lembrarmos de Deus, mas ele nos diz o tempo mais conveniente para fazer isto - os dias da nossa juventude. Não é bom preparar-se para uma batalha no fim da batalha, ou esperar até a última volta da corrida para amarrar o seu tênis. Do mesmo modo, é uma idéia ridícula (encontrada na cabeça de muitos jovens) que devemos adiar viver para Deus até o fim da vida e geralmente depois que boa parte da vida foi desperdiçada. Não seja como o filho pródigo que “caiu em si” só depois de desperdiçar a sua fortuna e a força da sua juventude. Caia em si nos dias do início da sua vida. Estabeleça o seu coração para buscar a Deus agora - para conhecê-Lo, adorá-Lo, servi-Lo, e alegrar-se na bondade dEle. Como alguém mais velho do que você, como um embaixador para Cristo, como se Deus mesmo fizesse um apelo através de mim, peço-o em nome Cristo, não desperdice a sua vida.
“Por que gastar dinheiro naquilo que não é pão,
e o seu trabalho árduo naquilo que não satisfaz?
Escutem, escutem-me, e comam o que é bom,
e a alma de vocês se deliciará com a mais fina refeição.”
(Isaias 55:2; NVI).

Por Paul Washer

Original: HeartCry Missionary Society Magazine, February-March 2006


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LEMBRE-SE DA BREVIDADE DA VIDA


O primeiro homem foi criado à imagem de Deus. Se ele tivesse se submetido à vontade de Deus, ele teria sido imortal. Ele passaria pelos anos da sua interminável existência de força a força, sem deterioração ou decadência. A passagem do tempo o teria levado a maiores níveis de maturidade, contentamento, e alegria. Sua existência teria abundado com propósitos e glória.
. . Com o advento do pecado, tudo foi perdido, e a existência dos homens tornou-se tragicamente distorcida e deformada acima de reconhecimento. O homem ficou um mortal de breve duração, cansaços, e futilidades. Ele agora vive a sua vida até que toda a sua vitalidade é esgotada, todos os seus propósitos são demolidos, e o corpo finalmente volta ao pó do qual ele veio. Não é sem razão que o pregador grita, “Vaidade de vaidades! Tudo é a vaidade” (Eclesiastes 1:2).
. . Como um moço ou moça, você deve constantemente lutar contra a tentação de esquecer-se da brevidade da vida e da vaidade, até da vida mais longa, vivida fora da vontade de Deus. Você deve aprender das Sagradas Escrituras que a sua vida é menos que um vapor. Você deve ficar convencido desta verdade, e, então, você deve estabelecê-la diante de você como um lembrete constante. Você é mortal e os seus dias são numerados!



“Quanto ao homem, os seus dias são como a erva,
como a flor do campo assim floresce.
Passando por ela o vento, logo se vai,
e o seu lugar não será mais conhecido.”
(Salmo 103: 15, 16; ACF).



“Vocês são como a neblina que aparece
por um pouco de tempo e depois se dissipa.”
(Tiago 4: 14; NVI).



       Você sabe que a Bíblia é verdadeira. Você sabe que a morte é uma certeza para você. Cada lápide e elegia testemunha a realidade inescapável que você vai morrer. E mesmo assim, como é que você tão rapidamente se esquece e se entrega às vaidades passageiras desta vida? É porque você é rodeado por uma cultura que faz tudo ao seu alcance para evitar algum pensamento sobre o fim de vida. É porque o deus deste século trabalha com toda a sua astúcia para mantê-lo entretido e distraído. É porque, embora você tenha sido remido, você ainda vive em um corpo da carne, decaído, que corre para tudo que é carnal e temporal. Conhecendo essas coisas, você faria bem em memorizar e orar muito a oração de Davi no Salmo 39: 4:


“Mostra-me, Senhor, o fim da minha vida
e o número dos meus dias,
para que eu saiba quão frágil sou.” (NVI)


Manter a sua mortalidade na frente de seus pensamentos não tem como objetivo ser mórbido ou se lamentar como aqueles que não têm nenhuma esperança, mas compeli-lo a esperar em Cristo somente e dar-se de todo coração à Sua vontade para sua vida. Só em Cristo a sepultura é consumida pela vitória, e a futilidade temporal substituída pelo propósito eterno e glorioso de Deus para você.

Por: Paul Washer



Original: HeartCry Missionary Society Magazine, February-March 2006


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Quem Não É Contra Nós É Por Nós
de Álvaro César Pestana
Haveria contradição nos provérbios de Jesus? Será que Jesus se enganou? Veja os seguintes textos: "Pois quem não é contra nós, é por nós" (Marcos 9.40; Lucas 9.50); "Quem não é por mim é contra mim, e quem comigo não ajunta, espalha" (Mateus 12.30; Lucas 11.23).
Antes de continuar é útil tirar proveito desta aparente contradição para rever boas regras de estudo bíblico. Primeiro, um texto, uma palavra e mesmo uma idéia só terá sentido em seu contexto. Fora do contexto só há erro e contradição; o sentido do texto, da palavra e de qualquer idéia vem do contexto. Segundo, os ditos proverbiais apresentam verdades gerais que precisam ser entendidas como regras gerais e não como profecia ou como afirmação absoluta sem exceção. Por exemplo: Provérbios 26.4 e 5 apresentam regras gerais "contraditórias", pelo menos aparentemente, mas na verdade cada provérbio é válido como regra em certas circunstâncias e em outras não. Com estas duas idéias em mente, vamos estudar o que Jesus quis dizer com estes dois provérbios.
UMA VERSÃO PARA CADA SITUAÇÃO
Os dois provérbios que estamos estudando ensinam a mesma lição. Não há contradição de idéias, mas simplesmente uma mesma verdade expressa de dois modos diferentes, para uso em diferentes análises. Para a auto avaliação, usa-se o provérbio mais severo (quem não é por mim, é contra mim); para a avaliação de outros, usa-se o mais suave (quem não é contra nós, é por nós). A lição básica é sempre a mesma: "É impossível ficar neutro em relação a Jesus".
NEUTRALIDADE IMPOSSÍVEL
Jesus curou um endemoninhado mudo, expulsando o demônio que causava esse mal. Os que viram o milagre reagiram de três formas: uns ficaram admirados, outros acusaram Jesus de ter um pacto com (ou estar possuído por) Belzebu, o demônio maior, e outros, finalmente, pediam que Jesus fizesse mais um milagre para provar quem ele realmente era (Lucas 11.14-17).
Jesus não faz milagres para provar algo a quem já teve toda a evidência que precisava. Jesus e Deus Pai não forçam o homem a aceitá-los. Certamente pedir provas a Deus não é o meio de ter fé para a salvação. Jesus passa a raciocinar com eles mostrando que é razoável crer nele como enviado de Deus, com base na evidência que já tinha sido dada. É assim que devemos agir hoje com aqueles que querem "mais razões" para crer. Jesus, na ocasião, mostrou que ele não seria um aliado do Diabo, pois estava a destruir-lhe o reino. Na verdade, Jesus estava provando que tinha mais poder que o Diabo e seus demônios. Além disto, a presença de tal poder entre os homens era evidência da proximidade do Reino de Deus (Lucas 11.17-22).
É neste momento que Jesus diz: "Quem não é por mim é contra mim, quem comigo não ajunta, espalha" (Lucas 11.23). A ilustração empregada por Jesus na segunda frase do provérbio vem do trabalho de ajuntar (ou espalhar) um rebanho, ou uma colheita. Ele afirma estar do lado de Deus e diz que aqueles que não estão do lado dele são inimigos de Deus. Quem não está com Jesus, está com Belzebu. "Quem não ajuda, atrapalha".
Para ilustrar isto ele conta a parábola chamada pelos negritos de algumas Bíblias de "a estratégia de Satanás". Se a "ex-casa" de um demônio tentar manter-se neutra, isto é, vazia, não vai ficar assim por muito tempo. Em breve aquele demônio voltará com outros piores ainda e o último estado do homem vai ser terrível, e bem pior que o primeiro (Lucas 11.24-26). Veja que esta parábola não é um aviso para as pessoas que um dia foram endemoninhadas. De fato, quando Jesus expulsava um demônio, ele não podia mais retomar àquela pessoa (Marcos 9.25). Esta parábola ilustra a impossibilidade de ficar neutro em relação a Jesus: não há casa vazia - não pode haver pessoa que não é nem de Jesus e nem do demônio. Ou seremos discípulos de Jesus, ou seremos inimigos dele. Não há meio termo.
Ao narrar este mesmo evento, Mateus dá ênfase ao fato de termos que decidir por Jesus, ligando o provérbio "quem não é por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha" com a possibilidade de pecar contra o Espírito Santo, o pecado sem perdão (Mateus 12.22-32). 0 pecado imperdoável é a oposição deliberada e contínua a Jesus e sua obra. O pecado contra o Espírito Santo deve ser entendido à luz do ditado acima. Portanto, é impossível ficar neutro no que diz respeito a Jesus.
RIVALIDADE IMPOSSÍVEL
Jesus declara: "Se você não está a favor, está contra." Por outro lado em Marcos 9.40 e Lucas 9.50 ele disse: "Se você não está contra, está a favor." Esta aparente contradição é resolvida quando se observa as circunstâncias que geraram o provérbio "quem não é contra nós, é por nós".
João, discípulo de Cristo, em uma de suas andanças encontrou um homem que expelia demônios usando o nome de Jesus. Este homem não era um dos seguidores de Jesus no mesmo sentido que eram os apóstolos e outros comissionados para aquele trabalho (Lucas 9.1-2; 10.1-12). João, talvez inspirado por um espírito de partidarismo como o de Josué (Números 11.16-30), proibiu o homem de continuar sua obra. Talvez, por causa do ensino sobre receber alguém em nome de Jesus, ele lembrasse do homem que, aos seus olhos, estava usando este nome sem merecê-lo e portanto não devia ser acolhido. Ele pede o parecer de Jesus sobre sua ação (Marcos 9.33-38; Lucas 9.46-49).
Ironicamente João estava agindo como os escribas que anterior-mente se opuseram a Jesus apesar da evidência da ação do Espírito Santo na realização de exorcismos (Marcos 3.22). Agora ele se opunha a um homem que tinha evidência de ter fé em Jesus e que estava fazendo o que alguns apóstolos não tinham conseguido um pouco antes (Marcos 9.18,28).
O Mestre ensinou que o comportamento de João, que representava o dos doze, era errado (Marcos 9.39-40). "Quem não é contra nós, é por nós" diz Jesus. Se aquele exorcista usava o nome de Jesus, deveria ter sido considerado como amigo por João e não como inimigo ou concorrente. Os discípulos de Cristo não precisam tomar "posições" com respeito aos homens; os homens é que precisam tomar uma posição com respeito a Jesus. O sentimento de rivalidade e de competição não é compatível com o caráter de servo que Jesus ensinou aos seus seguidores. Ser seguidor de Jesus é aprender a reconhecer que nem tudo tem de ser feito a nosso modo. Se o exorcista estava a favor de Jesus, deveria ser incentivado e não criticado; deveria, se necessário, ser instruído com maior exatidão sobre o caminho do Senhor (Atos 18.24-19-7). Ele não era como os sete filhos de Ceva (Atos 19.13-16), mas parecia ser alguém com uma boa atitude espiritual.
Este texto tem sido usado para ensinar que não importa a doutrina que alguém prega, desde que fale de Jesus: uma espécie de relativismo espiritual, onde um espírito meio ecumênico e meio eclético é transportado ao texto bíblico. Dizem: "Não importa se ele está pregando certo ou errado, mas se está falando de Jesus, devemos considerá-lo como irmão". Este modo de pensar é incentivado pelas Bíblias onde este texto recebe o título: "Jesus ensina tolerância e caridade". O texto não ensina nada disto! Ensina que devemos saber reconhecer apoio a Cristo e fé nele, mesmo quando a pessoa não é claramente identificada com Jesus. É um texto que manda abrir os olhos para ver o apoio à causa de Cristo e não um texto que manda fechá-los ao desvio da verdade. Nada podia ser declarado sobre a salvação deste exorcista (Mateus 7.21-23), nem ainda sobre todos os seus motivos interiores (Filipenses 1.15-18). De qualquer forma, ele não era neutro em relação a Jesus, mas estava do lado dele, pois "quem não está contra, está a favor" e vai evidenciar este fato com atos de verdadeira fé (Marcos 9.41).
APLICAÇÃO
Estes dois provérbios ensinam verdades que a igreja e os cristãos precisam fixar em suas mentes:
1. É impossível ficar neutro com relação a Jesus. Se não cooperamos com a obra de Cristo, estamos a obstruí-la. Se cooperamos com a obra de Cristo, esta cooperação deve ser real e completa. O grande erro de Pôncio Pilatos foi o de não querer se envolver com Jesus. Ele tentou lavar as mãos e, neste ato onde buscava neutralidade, acabou por tornar-se culpado da maior injustiça da história humana (Mateus 27.24). Pilatos optou pelo cômodo recurso da neutralidade quando deveria ter absolvido Jesus, se o considerasse inocente, ou mandá-lo matar, se o encontrasse culpado. É impossível ficar neutro em relação a Jesus. No mesmo erro incorreu o grande rabino Gamaliel (Atos 5.33-42). Embora sua intervenção salvasse os apóstolos de morte certa, seu parecer não é verdadeiro. Seu conselho foi que deixassem o tempo passar, para saber se aquele movimento era de Deus ou não. Mas o fato é que Gamaliel e o Sinédrio não podiam deixar o tempo julgar assuntos sobre os quais eles precisavam tomar uma decisão pessoal e também uma decisão a nível jurídico para a nação. Deixar o tempo passar impede pessoas de se converterem a Jesus. Além disso, há muitos erros que duram muito tempo, fazendo-nos pensar, pelo parecer de Gamaliel, que são coisas certas. Não é possível ficar neutro: ou Jesus é o Senhor ou é um terrível embusteiro. Não há comodidade aqui; não há neutralidade.
2. Precisamos reconhecer o apoio à causa de Cristo nos outros. Marcos 9.38-41 e Lucas 9.49-50 não nos ensinam tolerância para com o erro doutrinário, mas sim visão e sensibilidade para reconhecermos aliados na luta contra o mal. Quando percebemos que alguém está tentando cooperar com Cristo. devemos aproximar-nos dele como amigos e, se necessário, ajudá-lo a ser mais fiel a Jesus. Devemos chamar homens a Jesus e não afastá-los dele.
3. Devemos ser rigorosos conosco e flexíveis com os outros. Os textos de Marcos 9.40 e Lucas 9.50 ("quem não é contra nós, é por nós") devem ser nosso critério para observação dos outros. Mateus 12.30 e Lucas 11.23 ("quem não é por mim, é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha") deve ser nosso critério de auto-análise. Foi assim que Jesus usou estes diferentes ditados: seja rigoroso ao julgar a si mesmo e seja cuidadoso ao julgar o próximo.  

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